Mesmo com seis anos de experiência como espectroscopista, a iluminar todo o tipo de matéria para ver o que acontece, continuo a aprender coisas. Hoje, por exemplo, aprendi no Twitter que é preciso ter cuidado com fazer cocktails ao Sol – especialmente se formos usar sumo de limão ou lima!
Uma carreira inteira a estudar a fotoquímica (a química que é iniciada por luz, radiação ou fotões, como lhes queiram chamar), e nunca tinha ouvido falar de fitofotodermatose. Até hoje, quando alguém no Twitter partilhou uma foto das suas mãos depois de andar a fazer margaritas (um cocktail que inclui sumo de lima) ao Sol. Tiên dizia no seu Tweet que inicialmente pensou que fosse apenas uma queimadura solar, mas com o passar dos dias a queimadura piorou e o médico diagnosticou um caso de fitofotodermatose. Fito, porque resulta de um composto químico presente em plantas, neste caso as limas. Foto, porque só acontece sob exposição a radiação, neste caso radiação ultravioleta. E dermatose, por ser uma condição de pele.

Fiquei imediatamente curiosa – o que raio há nas limas que provoque uma coisa destas? Descobri que são moléculas da família dos furanocoumarins, compostos orgânicos presentes em várias plantas; os que causam a fitofotodermatose são derivados do psolareno. Este composto químico absorve radiação com cerca de 300 nm de comprimento de onda, ou seja, na zona do espectro precisamente entre o UVB e UVA, ambos presentes na radiação solar. Quando o sumo de lima está ao Sol, estas moléculas (que estão no sumo) absorvem a radiação e ficam foto-excitadas, com demasiada energia acumulada que tem de ser dissipada para algum lado. No caso do psolareno, esta energia em excesso causa reacções químicas com o ADN das células da pele, de tal forma que a molécula de psolareno se insere na sequência molecular do ADN e destrói, assim, a informação genética que era codificada por essa sequência. Estes ataques ao ADN são letais para as células e conforme as células morrem a dermatose começa a manifestar-se: descoloração da pele e vermelhidão, escamas, comichão, dor, e até bolhas em casos mais severos. Mais que isso, estes defeitos no ADN são o que, eventualmente, pode levar ao cancro da pele. A própria radiação solar tem estes efeitos dermatológicos, como o saberá qualquer pessoa que já passou por um sério escaldão, mas compostos foto-sensitizadores (assim chamados por provocarem reacções nefastas na pele sob exposição solar) aceleram e pioram estes efeitos.
As surpresas não acabam aqui no que toca à lima e, mais precisamente, ao psolareno. Apesar das suas características foto-sensitizadoras, o psolareno costumava ser usado em cremes bronzeadores (não os protectores solares, mas aqueles usados para escurecer a pele e acelerar o bronzear). O escurecer da pele é uma resposta do corpo aos danos provocados pela exposição à radiação solar: quando o Sol danifica muito ADN, o nosso corpo manda produzir mais melanina, para tentar evitar mais danos. Ora, se aplicamos uma molécula foto-sensitizadora à pele, o dano ocorre mais depressa – e por consequência o bronzeado também é mais rápido. Se estão horrorisados com esta revelação de que andámos anos a induzir danos ao nosso ADN por um bronzeado bonito, têm razão para isso… mas o uso de psolarenos em cosméticos está agora banido na União Europeia. No entanto, a combinação de psolareno e radiação UVA ainda é usada, de forma controlada e ultimamente benéfica, para o tratamento de várias condições dermatológicas, incluindo psoríase e micose fungóide.
Assim sendo, este Verão lembrem-se: não se lambuzem em sumo de limão ou lima quando estiverem ao Sol! E, como sempre, usem protector solar.